Clássicos da literatura Brasileira: Luiz Gama
Quem sou eu?
Quem sou eu? que importa quem?
Sou um trovador proscrito,
Que trago na fronte escrito
Esta palavra — "Ninguém!" —
Luís Gama
Luís Gama foi uma importante personalidade negra do Brasil na segunda metade do século XIX. Foi jornalista e rábula (advogado sem formação) de destaque e usou suas posições para denunciar e combater o racismo, além de ter sido adepto do movimento abolicionista, ajudando a libertar mais de 500 negros escravizados ao longo de sua vida."
"Luís Gama foi um dos maiores abolicionistas do Brasil na segunda metade do século XIX e usou de suas posições e de sua influência para defender o fim da escravidão e auxiliar negros escravizados. Ele manifestava sua oposição à escravidão em seus artigos jornalísticos, participou de associações abolicionistas, e foi uma figura engajada."
O engajamento político e a estrutura semântica seja ela satírica ou lírica, dos versos de Luiz Gama, se mesclam produzindo uma poesia precursora daquilo que hoje se chama consciência negra, sua obra passa pelo processo de se viver na pele o que se escreve se baseando não apenas no que viu ou imaginou, mas naquilo que sentiu e viveu. Outra característica marcante em sua obra é a de aceitar a visão preconceituosa do outro e torná-lo vítima do próprio preconceito, demonstrando que o âmbito em que ambos ocupam poeta e interlocutor, é semelhante.
A poética de Luiz Gama transcorre por duas vias que o destacam como o verdadeiro poeta dos escravos, a primeira se refere pela aceitação de sua identidade étnica, demonstrando a importância e beleza de ser negro. A segunda é a conscientização através dos versos contra o preconceito tanto dos que sofrem a ação e também dos que a praticam. Sua poesia não revela uma condição passiva, humilhada ou desgraçada, mas declara e informa de uma maneira equalizada, buscando não apenas deleites poéticos, mas atitudes que levassem ao leitor a ação diante do que lhe foi abordado. Lutando inteligentemente contra um contexto histórico que marginalizava o negro e sua cultura, o poeta, jornalista e advogado Luiz Gama foi através dos seus versos e da sua luta um real representante da literatura negra no Brasil, exaltador de sua etnia, que ao contrário de muitos, que escondiam a origem negra, ele corajosamente a engrandecia com grande eloqüência e personalidade.
Seu livro, Primeira trovas burlescas, foi publicado em 1859, livro este que possui por assim dizer, um dos seus mais conhecidos poemas denominado “Quem sou eu?” popularmente chamado de “Bodarrada”, nome este que vem da palavra “bode” que na gíria da época significava mulato, negro. Nesta parte grandiosa do poema vemos uma critica consciente e não elitizada, nos versos:
“[...]Eu bem sei que sou qual grilo
De maçante e mau estilo;
E que os homens poderosos
Desta arenga receosos
Hão de chamar-me — tarelo,
Bode, negro, Mongibelo;
Porém eu que não me abalo,
Vou tangendo o meu badalo
Com repique impertinente,
Pondo a trote muita gente.
Se negro sou, ou sou bode
Pouco importa. O que isto pode?
Bodes há de toda a casta,
Pois que a espécie é muito vasta.
Há cinzentos, há rajados,
Baios, pampas e malhados,
Bodes negros, bodes brancos,
E, sejamos todos francos,
Uns plebeus, e outros nobres,
Bodes ricos, bodes pobres,
Bodes sábios, importantes,
E também alguns tratantes
Aqui, nesta boa terra
Marram todos, tudo berra;
Nobres Condes e Duquesas,
Ricas Damas e Marquesas,
Deputados, senadores,
Gentis-homens, veadores;
Belas Damas emproadas,
De nobreza empatufadas;
Repimpados principotes,
Orgulhosos fidalgotes,
Frades, Bispos, Cardeais,
Fanfarrões imperiais,
Gentes pobres, nobres gentes
Em todos há meus parentes.
Entre a brava militança
Fulge e brilha alta bodança;
Guardas, Cabos, Furriéis,
Brigadeiros, Coronéis,
Destemidos Marechais,
Rutilantes Generais,
Capitães-de-mar-e-guerra,
— Tudo marra, tudo berra —
Na suprema eternidade,
Onde habita a Divindade,
Bodes há santificados,
Que por nós são adorados.
Entre o coro dos Anjinhos
Também há muitos bodinhos...[...]”
Referências:
O engajamento político e a estrutura semântica seja ela satírica ou lírica, dos versos de Luiz Gama, se mesclam produzindo uma poesia precursora daquilo que hoje se chama consciência negra, sua obra passa pelo processo de se viver na pele o que se escreve se baseando não apenas no que viu ou imaginou, mas naquilo que sentiu e viveu. Outra característica marcante em sua obra é a de aceitar a visão preconceituosa do outro e torná-lo vítima do próprio preconceito, demonstrando que o âmbito em que ambos ocupam poeta e interlocutor, é semelhante.
A poética de Luiz Gama transcorre por duas vias que o destacam como o verdadeiro poeta dos escravos, a primeira se refere pela aceitação de sua identidade étnica, demonstrando a importância e beleza de ser negro. A segunda é a conscientização através dos versos contra o preconceito tanto dos que sofrem a ação e também dos que a praticam. Sua poesia não revela uma condição passiva, humilhada ou desgraçada, mas declara e informa de uma maneira equalizada, buscando não apenas deleites poéticos, mas atitudes que levassem ao leitor a ação diante do que lhe foi abordado. Lutando inteligentemente contra um contexto histórico que marginalizava o negro e sua cultura, o poeta, jornalista e advogado Luiz Gama foi através dos seus versos e da sua luta um real representante da literatura negra no Brasil, exaltador de sua etnia, que ao contrário de muitos, que escondiam a origem negra, ele corajosamente a engrandecia com grande eloqüência e personalidade.
Seu livro, Primeira trovas burlescas, foi publicado em 1859, livro este que possui por assim dizer, um dos seus mais conhecidos poemas denominado “Quem sou eu?” popularmente chamado de “Bodarrada”, nome este que vem da palavra “bode” que na gíria da época significava mulato, negro. Nesta parte grandiosa do poema vemos uma critica consciente e não elitizada, nos versos:
“[...]Eu bem sei que sou qual grilo
De maçante e mau estilo;
E que os homens poderosos
Desta arenga receosos
Hão de chamar-me — tarelo,
Bode, negro, Mongibelo;
Porém eu que não me abalo,
Vou tangendo o meu badalo
Com repique impertinente,
Pondo a trote muita gente.
Se negro sou, ou sou bode
Pouco importa. O que isto pode?
Bodes há de toda a casta,
Pois que a espécie é muito vasta.
Há cinzentos, há rajados,
Baios, pampas e malhados,
Bodes negros, bodes brancos,
E, sejamos todos francos,
Uns plebeus, e outros nobres,
Bodes ricos, bodes pobres,
Bodes sábios, importantes,
E também alguns tratantes
Aqui, nesta boa terra
Marram todos, tudo berra;
Nobres Condes e Duquesas,
Ricas Damas e Marquesas,
Deputados, senadores,
Gentis-homens, veadores;
Belas Damas emproadas,
De nobreza empatufadas;
Repimpados principotes,
Orgulhosos fidalgotes,
Frades, Bispos, Cardeais,
Fanfarrões imperiais,
Gentes pobres, nobres gentes
Em todos há meus parentes.
Entre a brava militança
Fulge e brilha alta bodança;
Guardas, Cabos, Furriéis,
Brigadeiros, Coronéis,
Destemidos Marechais,
Rutilantes Generais,
Capitães-de-mar-e-guerra,
— Tudo marra, tudo berra —
Na suprema eternidade,
Onde habita a Divindade,
Bodes há santificados,
Que por nós são adorados.
Entre o coro dos Anjinhos
Também há muitos bodinhos...[...]”
Referências:
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